Até 2014 a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 199, parágrafo 3, proibia a participação direta ou indireta do capital estrangeiro na assistência à saúde, com exceções. Contudo, em 19/01/2015 foi aprovada a Lei 13.097/2015 que alterou a lei 8080/1990 e esse cenário foi revertido. Foi a partir desta mudança que, nesse mesmo ano, os Fundos de Private Equity começaram a investir no setor de saúde adquirindo participações em hospitais e clínicas nas mais diversas especialidades.
Desde então, o Brasil está experimentando uma mudança de paradigma no cenário de investimentos em saúde. Grandes clínicas oftalmológicas no Nordeste e Centro-Oeste brasileiro foram as primeiras a terem participação de capital destes fundos em seus investimentos e outras mais, de todo território nacional, também estão em negociação.
Para entendermos melhor o que é Pátria, Private Equity, HOBrasil e os objetivos destes investidores, o oftalmologista Dr Marcelo Freitas, fundador, juntamente com a Dra. Mônica Freitas, do Instituto de Olhos Freitas, cedeu gentilmente esta entrevista ao Eye Channel.
Eye Channel: Dr Marcelo Freitas, o que é o Pátria?
Dr. Marcelo Freitas: “O Pátria é um Fundo de Investimentos de Private Equity que é, em síntese, uma Instituição Financeira que capta recursos de longo prazo no mercado financeiro – fundo de pensão, grandes investidores, ” family offices”, etc, e investem estes recursos em empresas. Assim, é possível, assumindo o risco do negócio investido, obter um retorno financeiro diferenciado daquele que seria conseguido se os detentores dos recursos o investissem em renda fixa: por exemplo, Letras do Tesouro Nacional, Bonds do Tesouro Americano que têm mínimo risco de crédito. Por ser investido em empresas com o propósito de fazê-las crescer, esse Capital é um Capital Empreendedor, em oposição ao capital especulativo: as empresas crescem e geram novos empregos. As empresas investidas serão vendidas após um certo tempo, em geral entre 5 a 10 anos – depois de terem alcançado um crescimento significativo – para outro fundo de investimento ou serão levadas à Bolsa de valores para Abertura de Capital (IPO – Oferta Inicial de Ações -). Aí, nesse momento, é que o fundo vai obter o retorno do capital investido. Há, basicamente, 3 classes de fundos de investimentos: Seed, Ventura Capital e de Private Equity. Os dois primeiros investem ou em “ideias” ou em Startups – é um investimento com uma dose de risco muito elevada – enquanto que os Fundos de Private Equity investem em empresas mais maduras – que já têm um bom faturamento.”
Eye Channel: Qual o objetivo do Pátria na Área da Saúde e quais clínicas já foram adquiridas?
Dr. Marcelo Freitas: “O Pátria tem uma grande experiência na área de saúde, aliás, aproximadamente 60% dos seus investimentos estão concentrados nesse segmento. Um exemplo clássico é o do grupo DASA, abaixo. ”
“Quando um segmento como a oftalmologia, por exemplo, é fragmentado, isto é: há um grande número de clínicas, mas nenhuma tem uma grande participação no mercado ( market share ) e, ao mesmo tempo, é um segmento com grande potencial de rentabilidade, surge, então, a oportunidade de se fazer o que se denomina de Consolidação do Mercado. Assim, através de uma Holding, o Pátria se associa a várias empresas localizadas nas mais diferentes regiões geográficas e forma uma grande rede de empresas de oftalmologia. Aliás, o projeto tem a ambição de alcançar a América Latina. Veja o exemplo do grupo Baviera da Espanha e outros países da Europa. ”
“O projeto começou com o Instituto de Olhos Freitas em 2015 , em Salvador, e, logo em seguida, entrou o Hospital Oftalmológico de Brasília em 2016, cuja negociação já estava em andamento. Posteriormente, em 2017, o DayHorC, em Salvador, Instituto de Olhos Villas, em Villas do Atlântico em Lauro de Freitas, município próximo a Salvador e o Hospital de Olhos Santa Luzia em Maceió. Aproximadamente, entre 10 e 20 outras clínicas estão em negociação – não significa que todas as negociações sejam viabilizadas- sendo que, dentre essas, 3 devem ser concluídas, em princípio, até o final do ano. O objetivo inerente a qualquer fundo de investimento é ter retorno financeiro do investimento feito. Contudo, como mencionei anteriormente, o capital investido é um capital empreendedor que tem como propósito promover o aperfeiçoamento das práticas médicas através do uso consciente desses recursos: agregação de novas tecnologias, aperfeiçoamento profissional através de um programa de educação continuada, mais oportunidade de trabalho e enfim, a melhoria do padrão do atendimento aos nossos clientes, que é o objeto fim da nosso profissão: é a qualidade dos serviços médico-oftalmológicos gerando o diferencial competitivo do HOBrasil que é gerido por profissionais especialistas. É uma quebra de paradigma ou, mais popularmente, ” cada um no seu quadrado”. Nessa soma 2+2=8!!!! Esse grupo de empresas está reunido numa nova empresa denominado de HOBrasil ( mencionada anteriormente ); os médicos fundadores se reuniram num Comitê Médico, coordenado por Dra. Luciene Barbosa, e pelos diretores médicos de cada unidade. Daí é que surge a estratégia medica do grupo. A Dra. Luciene está desenvolvendo o programa de educação continuada – já temos, inclusive unidades que têm Residência Médica e programas de Fellowship- e estabelecendo parcerias com grandes universidades brasileiras. Assim, vamos construir uma grande empresa de oftalmologia voltada 100% ao atendimento de excelência de nosso cliente e também formadora de profissionais médicos capazes de atuar de pronto no mercado de trabalho.”
Eye Channel: Como está sendo essa experiência no Brasil?
Dr. Marcelo Freitas: “A experiência está sendo muito enriquecedora; vemos as empresas desenvolvendo uma estrutura de gestão profissional que permitirá o aumento do potencial de crescimento, sobrevivência e perpetuação do trabalho dos seus fundadores, além da oportunidade de crescimento profissional de nós médicos e do nascimento de um novo mercado de trabalho.”