Para tentar melhorar a eficácia da dacriocistorrinostomia (DCR) e ao mesmo tempo tentar diminuir a agressão cirúrgica do procedimento com técnicas cada vez menos invasivas algumas opções cirúrgicas vem se mostrando promissoras nos últimos anos. Um exemplo é a técnica testada pelo Dr Eduardo Feijó em sua tese de doutorado e que foi publicado no European Archives of Otorhinolaringology em 2017 – A comparative study of modified transcanalicular diode laser dacryocystorhinostomy versus conventional transcanalicular diode laser dacryocystorhinostomy.

O Eye Channel conversou com Dr Eduardo Feijó para saber mais sobre seu estudo e os resultados da nova técnica:

Eye Channel: Parabéns pelo excelente estudo, Dr Eduardo. Conte-nos qual foi o objetivo do seu trabalho?

Dr Eduardo Feijó: Na era das cirurgias minimamente invasivas, o objetivo do nosso estudo foi aprimorar a técnica de dacriocistorrinostomia (DCR) transcanalicular com laser diodo no sentido de aumentar a sua eficácia, que hoje é descrita como sendo em torno de 70 a 75%, ainda inferior às técnicas tradicionais mais invasivas, como a DCR externa e DCR endoscópica (90% de eficácia) É importante salientar que essa técnica foi introduzida no Brasil pelo Dr. Ricardo Kanekadan.


Eye Channel: Como é feita cada uma das técnicas?


Dr Eduardo Feijó: Na DCR transcanalicular tradicional, a fibra óptica do laser é introduzida pelo canalículo superior e chega até a parede medial do saco lacrimal e então o laser é ativado e faz uma comunicação direta entre o saco lacrimal e a mucosa nasal, sem a necessidade de osteotomias amplas. Na nossa técnica modificada, um retalho de mucosa nasal é retirado antes da ativação do laser, protegendo a mucosa nasal dessa ação térmica. Justamente a queimadura na mucosa nasal que provoca fibrose e posterior fechamento dessa abertura. Com a retirada prévia da mucosa nasal, utilizando instrumentos frios, há menor possibilidade de fibrose cicatricial da rinostomia.

Eye Channel: Como foi realizado o estudo? Como os pacientes foram divididos? Como foram os procedimentos?


Dr Eduardo Feijó: O estudo foi realizado através de randomização em bloco, onde os pacientes foram selecionados de forma consecutiva no ambulatório de vias lacrimais do Hospital Oftalmológico de Anápolis, Goiás. O critério de inclusão principal foi obstrução do ducto nasolacrimal. Os procedimentos foram realizados por uma equipe de oftalmologista e otorrinolaringologista, todos com anestesia local e sedação intravenosa. Foram realizadas 44 cirurgias, 22 com a técnica tradicional e 22 com a nossa técnica modificada. Contamos com a orientação do Dr. Roberto Limongi, da UFG e da Dra. Suzana Matayoshi, da USP. Contamos também com a participação da Dra Juliana Caixeta, mestre em Otorrinolaringologia pela Unifesp, que ajudou nas cirurgias


Eye Channel: Como foram os resultados encontrados no estudo?


Dr Eduardo Feijó: Os resultados foram animadores! Dos 22 casos operados com a técnica tradicional, obtivemos 72% (16 pacientes) de eficácia na resolução da epífora causada pela obstrução do ducto nasolacrimal e com a nossa técnica, dos 22 pacientes operados, 86% (19 pacientes) obtiveram êxito!

Eye Channel: Com base nos resultados encontrados, o que concluiram sobre o estudo?


Dr Eduardo Feijó: A DCR transcanalicular a laser modificada oferece excelentes resultados, superiores à técnica a laser tradicional, e é uma técnica minimamente invasiva, com menor morbidade, menor riscos de sangramentos intraoperatórios, menos agressiva, com curva de aprendizado rápida, ausência de cicatrizes faciais, possível de se realizar em pacientes com comorbidades e podendo ser realizada ambulatorialmente. É bastante popular na Europa e Estados Unidos, creio que a tendência é se popularizar no Brasil também.

O vídeo abaixo mostra a realização de uma DCR transcanalicular a laser modificada realizada pelo Dr Eduardo Feijó:

Dr Eduardo Feijó

  • Professor Colaborador do Fellow de Plástica Ocular do CEROF/UFG
  • Doutorando em Ciências Médicas da FMUSP
  • Chefe do Setor de Plástica Ocular do Hospital Oftalmológico de Anápolis