Prof. Dr. Paulo Schor, coordenador de pesquisa da Unifesp e professor adjunto livre docente do departamento de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina

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O processo de aprendizagem da atualidade não difere muito do processo de aprendizagem que vem sendo praticado nas últimas décadas. E, no meu modo de ver, também não difere muito o sentimento que os estudantes de quatro ou cinco décadas atrás tinham, do sentimento que os estudantes de hoje têm. Ou seja, eles procuram aplicação para o que foi ensinado e isso na área médica é bastante patente quando eles perguntam, no primeiro e segundo anos, “quando vai começar o curso?”. E nós achamos isso sempre um absurdo, do ponto de vista didático, porque os conhecimentos básicos são fundamentais para se montar um raciocínio clínico crítico mais adequado.
O que parece que tem acontecido ultimamente é uma facilidade de comunicação destes estudantes fazendo com que se manifestem. E, principalmente, um ouvido um pouco mais atento dos professores que ouvem estas manifestações.
Então com isso, há um movimento bastante patente em direção ao aprendizado baseado em realidade, em relevância, e nós apelidamos de aprendizado baseado em desafio.
Com base nessa teoria já tivemos algumas iniciativas aqui mesmo na Escola Paulista de Medicina e uma delas foi publicada nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia em 2012 com o Prof Wallace Chamon, ”Ensinando oftalmologia ao estudante de medicina: uma nova abordagem”, vale a pena a leitura. E agora um novo projeto que surgiu durante o curso de oftalmologia para os alunos do quinto ano médico, foi um projeto aonde nós tentamos estimular a criatividade e a memória, procurando que eles identificassem retinografias dos colegas com o uso apenas de um oftalmoscópio direto. O que se fez foi apresentar uma serie de retinografias para eles, impressas, sem a identificação. Apenas com o oftalmoscópio direto eles procurariam, entre os colegas, de quem eram as retinografias, buscando o dono da imagem registrada na fotografia. O detalhe é que os exames foram feitos sem dilatação, tanto a busca pela fundoscopia, bem como a própria retinografia que também foi feita por eles. Houve assim uma desmistificação da dificuldade da obtenção desta fotografia digital. Um empoderamento, um treinamento, e uma habilitação muito rápida. Após a apresentação do aparelho aos estudantes, estes conseguiram obter uma imagem retinográfica de razoável qualidade, suficiente para que eles se identificassem.

Gamificação. Foto Dr Paulo Schor

Pelo relato dos próprios estudantes, eles aproveitaram bastante a atividade. Nós conseguimos relatar isso também por escrito no último número da revista Universo Visual. A gamificação, como foi chamado este tipo de atividade, é um processo lúdico interessante que demanda muito do professor porque ele tem que literalmente inventar uma nova atividade a cada dia que passa. É um modo de colocar os estudantes dentro do processo educativo e, ao meu ver, de principalmente fazer com que eles entendam que existiu uma motivação por parte do professor para que eles, aprendam, e apreendam o conhecimento. Isso é um novo modo de ensino que impõe uma complexidade muito maior ao o corpo docente que tem que preparar efetivamente uma aula diferente a cada passo, e tem que se preparar para lidar com respostas e situações que são imprevisíveis na sala de aula. Isso me parece ser uma nova relação professor-aluno, para a qual nós temos que estar preparados, atentos, e muito mais humildes.

Participaram deste estudo o Professor Mauricio Maia e os estudantes Juliana Trevizo, Henrique Cunha e Caio Augusto de Souza.