As defesas de tese de doutorado (e mesmo algumas dissertações de mestrado) margeiam sempre a fronteira do conhecimento científico e são, na sua quase totalidade, recheadas de linguagem técnica altamente especializada. Essa linguagem é de difícil compreensão para o público geral e até mesmo para uma boa parcela dos colegas da área. O Eye Channel, por exemplo, tem a proposta de universalizar, entre os oftalmologistas, o conteúdo principal de relevantes teses de mestrado e doutorado através de entrevistas que tentam simplificar os pontos principais destas teses para que sejam mais acessíveis aos oftalmologistas de um modo geral. Inclusive àqueles colegas que tem pouca familiaridade com a linguagem científica formal ou que tem pouco tempo para ler várias teses na íntegra na correria do cotidiano.
Porém, uma nova ideia trazida pelo Prof. Dr. Paulo Schor, coordenador de pesquisa da Unifesp e professor adjunto livre docente do departamento de oftalmologia da Escola Paulista de Medicina, vai muito mais além que a divulgação apenas para os oftalmologistas. O conceito de “pós-tese” visa levar o conhecimento à sociedade em geral. Segundo Dr. Paulo Schor, “a comunidade deveria ter acesso à tradução do que foi discutido como resultado das teses que ela patrocinou. E isso não é feito de um modo sistemático nas defesas de tese. A defesa de tese é um momento acadêmico, formal, importante para que o candidato incorpore a experiência da banca e se posicione frente as regras acadêmicas (Igreja do Saber). Essa não é a mesma linguagem que a sociedade costuma entender. Ainda mais nesses tempos de internet e comunicação mais cifrada, “pós-tese” é um direcionamento à sociedade”.
O modelo de “pós-tese” tem paralelos em outros países. Em conversa com o Eye Channel, direto de Amsterdã, Dr. Paulo comentou que isto “é uma coisa que já é feita em outros países, também não de um modo sistemático. Aqui na Holanda, por exemplo, é pedido para algumas teses, cujo apelo social é mais importante, que sejam repercutidas depois da apresentação. A apresentação aqui é mais formal ainda, é 1 hora apenas de apresentação. Cada membro da banca faz somente 1 pergunta, e é muitíssimo mais fechado o formato, muito mais do que aí no Brasil, mas a ideia é essa, que seja possível uma continuação da discussão da tese numa linguagem possível da sociedade entender, principalmente nos dias de hoje, e que nós queremos que isso se multiplique no Brasil”.
Mas como exatamente é esse evento “pós-tese”? Segundo Dr Paulo, “a ideia é que os pós-graduandos sejam também treinados, durante seu curso, pra que, depois da tese, façam uma apresentação, participem de um evento, façam uma mesa redonda ou escrevam um artigo. Não importa o formato, mas que seja focado na transferência do conhecimento para a sociedade. Isso já foi feito recentemente e com sucesso na tese do Dr. Paulo Falabella, onde chamamos vários empreendedores, professores de outras universidades com viés em inovação e biotecnologia, e abrimos uma ampla discussão sobre o tema, que era central na tese”. É uma forma de prestar contas à sociedade, além de atrair novos investimentos, criar insights para empreendedores, fomentar discussões sobre aplicabilidade e continuidade do conhecimento gerado, etc. “Então por isso nós chamamos de pós-tese. Inicialmente uma iniciativa da pro-reitoria de pós-graduação e pesquisa da UNIFESP, que pretendemos replicar em outras teses também. Não é um nome proprietário, então é algo que nós esperamos que se difunda não só na UNIFESP mas em outras universidades também” completou Dr Paulo Schor.